OS SONHOS
SÃO COMO ESTRELAS
São
Bernardino se emancipou de Campo Erê em 1995. É hoje uma bela cidadezinha com
ruas largas e planejadas, limpa e bem cuidada. Quem a visita não faz ideia da
situação dos primeiros anos quando as condições eram muito precárias.
Falei com
alguns dos primeiros, vindos, principalmente, de Boa Vista e Poço das Antas.
Imaginava que guardavam tristes lembranças destes tempos difíceis. Então, com
surpresa, ouvi o depoimento de Anita Flach Ludwig. Disse que, se pudesse
escolher, para viver de novo escolheria esses primeiros anos:
-Foram os
dias mais felizes da minha vida na companhia do marido e rodeada dos filhos que
iam nascendo e enchiam as nossas vidas de alegria e esperança.
Conta seu
Nelson que para visitar os amigos atrelava os bois à carreta e carregava todos
os filhos. Algumas vezes a viagem era longa chegando a demorar uma hora e meia
para chegar à casa do amigo.
As conversas
eram animadas e, apesar das condições difíceis, sempre havia um chimarrão,
pipocas, uma rapadura ou, em ocasiões muito especiais, uma cuca.
E como já se dizia
naquela época:
- Bem, a conversa está
boa, mas o caminho da volta é longo.
E depois de as mulheres
terem colocado as fofocas em dia, os homens compartilhado experiências de roça
e relembrado os anos de juventude na velha Boa Vista e as crianças já cansadas
de tanto brincar, eis que uma carroça parte rumo ao lar levando um casal de
alma lavada e suas crianças, que num último esforço ainda fazem algazarra.
Conta seu Nelson que
deitadas na carroça olhavam para o céu e contavam as estrelas. E tomavam posse das
mais bonitas lá no alto. Então, a caçulinha desatou a chorar. Queria que o pai
agarrasse a sua estrela e a colocasse em suas mãozinhas. Todos riram da
inocência da menina, mas o pai, com muita sabedoria, falou para os filhos:
- As estrelas são como
sonhos. Eles não podem vir a nós. Nós é que devemos correr atrás deles. Os
sonhos, assim como as estrelas, nos fazem olhar para o alto. Por isso é que Deus as colocou lá em
cima, onde devem estar os nossos limites. Elas são inatingíveis como devem ser os
nossos ideais. Meus filhos, não sonhem pequeno! Sonhem com as estrelas.
A caçulinha correu atrás dos seus sonhos. Andou por veredas, atalhos e
picadas tortuosas. Mas sabe que tudo valeu a pena porque hoje entende as sábias palavras
do pai. Ela tem em suas mãos, duas estrelas brilhantes que lhe iluminam o
caminho quando as trevas do infortúnio tentam envolvê-la.
Assim nasceu São Bernardino. Citei o Nelson e sua esposa Anita neste texto, mas
com certeza, esta história caberia em cada um dos pioneiros de toda esta região.
Eles são o alicerce da cidade e sua história está baseada sobre o que de mais
nobre pode caber na alma de um ser humano. O amor pelo companheiro, pelos
filhos e pela terra que os acolheu com tanta generosidade.