UMA ATROCIDADE
Hoje vou falar sobre Ladislau. Para os íntimos, o Ládis. Ele era um cachorro absolutamente preto. Preto como breu. Você conhece breu? Eu, também, não. Mas sei que o “dito” é usado quando queremos referir-nos a alguma coisa absolutamente preta. Pois, assim, era Ladislau.
O destino lhe reservou uma vida bonita, em meio à natureza, numa propriedade rural com espaço para correr atrás de lebres, gambás, gatos de mato, preás e muitos outros bichos selvagens.
Apesar de ser um guaipeca sem raça definida, era amado por todas as pessoas da família.
Quando, na comunidade, uma cadela entrava em cio, ou quando não queriam que ele corresse pelas roças estragando as plantações amarravam-no com uma corda.
Certo dia, Henrique soube que uma das cadelas de Mateus estava “naqueles dias”. Então Enedir, a dona de Ladislau, tratou logo de prendê-lo, amarrando-o na traseira da caminhonete, para poupar que sofresse agressões porque nestas ocasiões a cachorrada toda se reunia e a cadela era disputada ferozmente.
Aí aconteceu uma emergência e Enedir foi atendê-la com a caminhonete onde o Ládis estava amarrado. Ninguém se lembrou do guaipeca que foi levado de arrasto estrada afora. Somente a vó Natalia, que estava na janela, viu a terrível cena do Ladislau sendo arrastado. Correu para o telefone e ligou para a Lúcie, mas a caminhonete já havia passado. Então ligou para a Pelácia que, finalmente, se postou na estrada em tempo de parar o veículo. Quando foram ver o que tinha sobrado do cachorro, só encontraram a corda.
De noite, Ladislau voltou para casa, mas não sem antes ter passado no Mateus onde a cadela estava em cio.
Mais tarde, concluiu-se que naquela noite ele conquistou o coração dela, pois vários filhotes nasceram com a cara, ou melhor, com o focinho dele.
Nos bastidores da família Schommer, desconfia-se, ainda hoje, que Enedir planejara aquela ação para se livrar de Ladislau. Sou vizinho dela e a conheço suficientemente bem para ter certeza que ela seria incapaz de uma atitude com tais requintes de crueldade.
Ladislau viveu, ainda, vários anos, tempo suficiente, para conhecer e curtir seus filhotes, netos e bisnetos.
Meu abraço especial vai à Grande Família Schommer. A família que Hugo nos deixou engrandece a nossa comunidade.