domingo, 17 de janeiro de 2016

CONVESCOTE II – O Lagarto de Papo Amarelo

Lagarto de Papo Amarelo

Poço natural de até dois metros de profundidade


                                                -Continuação-


CONVESCOTE II –  O Lagarto de Papo Amarelo

Descemos por uma trilha que levava ao poço onde iríamos acampar.
Mamãe escolheu um local minimamente nivelado e lá estendeu uma toalha sobre a qual colocamos as nossas coisas. Papai ordenou que ninguém entrasse na água para não espantar os peixes. Primeiro iríamos pescar e somente depois o banho seria liberado.
 Quem pegou o primeiro peixe foi meu irmão menor; um lambari. Ele ficou todo encabulado com os elogios da Tia e os aplausos de todos.  Depois, pegamos jundiás, uma carpa e muitos charutinhos.
Antes do lanche do meio dia, o banho foi liberado. Os grandes já se deliciavam com a água refrescante do arroio que neste local formava um poço natural de até dois metros de profundidade. Papai recomendou muito cuidado e que somente os adultos, que sabiam nadar bem, poderiam entrar nos lugares mais fundos. Nós tivemos que esperar, pacientemente, até que Tia Clara inflasse as nossas boias e colocasse uma em cada antebraço. A festa foi grande e o tumulto maior ainda. Em pouco tempo, aquela água que era límpida, virou um lamaçal. No leito do arroio havia muito entulho depositado e com o agito, o barro se misturou com a água. Mas, isso não diminuiu a alegria e o prazer desse banho refrescante.
Já era hora de sair da água. Lavamo-nos logo acima na água limpa e corrente, e sem trocar de roupa fomos comer o nosso lanche.  Depois, os mais velhos deitaram para descansar. Nós e Tia Clara voltamos a pescar porque, disse ela, que os peixes maiores só saem de suas tocas com a água suja. De fato, enquanto a água estava turva, pegamos vários peixes grandes.
Em certo momento, a Tia se afastou do acampamento para satisfazer as necessidades. Seguiu por uma trilha feita por caçadores que passavam por aí a procura quatis, pombas, anhangás e outras caças. De repente, ouvimos a tia gritar desesperadamente:
- Um bicho, um bicho!
E lá veio ela correndo pela trilha e atrás dela um enorme lagarto de papo amarelo. Papai agarrou a espingarda e acertou, de raspão, o rabo do animal que, assustado, deu meia volta e sumiu no mato. O tiro arrancou parte do rabo do lagarto que ficou aí se retorcendo.
 Perguntamos para a Tia como isso tinha acontecido.
- O bicho danado veio bisbilhotar enquanto eu fazia as minhas necessidades. Então, joguei uma pedrinha nele para espantá-lo. Ele não deve ter gostado e me atacou.
Tia Clara era manca de uma perna e teve dificuldades para fugir do réptil. Porém, graças a espingarda de pai, ela se safou de levar uma rabanada do lagarto atrevido.
Depois daquele incidente, ainda pescamos mais alguns peixes. Pelas quatro horas, pusemo-nos a caminho de casa apesar dos protestos da gurizada que queria ficar mais.
De noite, enquanto comíamos os peixes o assunto foi sobre o ataque que tia sofreu. Ela estava chateada porém, teve que concordar que foi providencial papai ter levado a espingarda. E disse:
- Em vez de acertar o rabo devia ter acertado a cabeça do desgraçado. Então, todos rimos, inclusive ela que já não se incomodava com as provocações de papai.
Quando a Tia já havia embarcado no ônibus papai falou, bem alto, para que todos ouvissem:
- Conta para o Getúlio a tua aventura com o lagarto! E deu uma gargalhada.