Lagarto de Papo Amarelo |
Poço natural de até dois metros de profundidade |
-Continuação-
CONVESCOTE II – O Lagarto de Papo
Amarelo
Descemos
por uma trilha que levava ao poço onde iríamos acampar.
Mamãe
escolheu um local minimamente nivelado e lá estendeu uma toalha sobre a qual
colocamos as nossas coisas. Papai ordenou que ninguém entrasse na água para não
espantar os peixes. Primeiro iríamos pescar e somente depois o banho seria
liberado.
Quem pegou o primeiro peixe foi meu irmão
menor; um lambari. Ele ficou todo encabulado com os elogios da Tia e os
aplausos de todos. Depois, pegamos
jundiás, uma carpa e muitos charutinhos.
Antes
do lanche do meio dia, o banho foi liberado. Os grandes já se deliciavam com a
água refrescante do arroio que neste local formava um poço natural de até dois
metros de profundidade. Papai recomendou muito cuidado e que somente os
adultos, que sabiam nadar bem, poderiam entrar nos lugares mais fundos. Nós
tivemos que esperar, pacientemente, até que Tia Clara inflasse as nossas boias
e colocasse uma em cada antebraço. A festa foi grande e o tumulto maior ainda.
Em pouco tempo, aquela água que era límpida, virou um lamaçal. No leito do
arroio havia muito entulho depositado e com o agito, o barro se misturou com a
água. Mas, isso não diminuiu a alegria e o prazer desse banho refrescante.
Já era
hora de sair da água. Lavamo-nos logo acima na água limpa e corrente, e sem
trocar de roupa fomos comer o nosso lanche. Depois, os mais velhos deitaram para
descansar. Nós e Tia Clara voltamos a pescar porque, disse ela, que os peixes
maiores só saem de suas tocas com a água suja. De fato, enquanto a água estava
turva, pegamos vários peixes grandes.
Em
certo momento, a Tia se afastou do acampamento para satisfazer as necessidades.
Seguiu por uma trilha feita por caçadores que passavam por aí a procura quatis,
pombas, anhangás e outras caças. De repente, ouvimos a tia gritar
desesperadamente:
- Um
bicho, um bicho!
E lá
veio ela correndo pela trilha e atrás dela um enorme lagarto de papo amarelo.
Papai agarrou a espingarda e acertou, de raspão, o rabo do animal que,
assustado, deu meia volta e sumiu no mato. O tiro arrancou parte do rabo do
lagarto que ficou aí se retorcendo.
Perguntamos para a Tia como isso tinha
acontecido.
- O
bicho danado veio bisbilhotar enquanto eu fazia as minhas necessidades. Então,
joguei uma pedrinha nele para espantá-lo. Ele não deve ter gostado e me atacou.
Tia
Clara era manca de uma perna e teve dificuldades para fugir do réptil. Porém,
graças a espingarda de pai, ela se safou de levar uma rabanada do lagarto
atrevido.
Depois
daquele incidente, ainda pescamos mais alguns peixes. Pelas quatro horas, pusemo-nos
a caminho de casa apesar dos protestos da gurizada que queria ficar mais.
De
noite, enquanto comíamos os peixes o assunto foi sobre o ataque que tia sofreu.
Ela estava chateada porém, teve que concordar que foi providencial papai ter
levado a espingarda. E disse:
- Em
vez de acertar o rabo devia ter acertado a cabeça do desgraçado. Então, todos
rimos, inclusive ela que já não se incomodava com as provocações de papai.
Quando
a Tia já havia embarcado no ônibus papai falou, bem alto, para que todos
ouvissem:
- Conta
para o Getúlio a tua aventura com o lagarto! E deu uma gargalhada.